Olá, pessoal!!!! Iniciando o quadro de Contos, utilizando os personagens da saga Os Confins da Terra, segue um um dos meus contos favoritos: O Ladrão e Seus Segredos!!!!
A Aparição
Eurico, Portugal. O ano do
nosso Senhor de 1586. Era o governo do El-Rei Dom Filipe II, da Espanha, o rei
mais poderoso da terra. Era a época da grande expansão. A riqueza
superabundava, apesar do descaso do atual governador espanhol Dom Ziros Lopes
Garcia. As casas de Eurico tinham de três a cinco andares, sendo o primeiro uma
loja e, nos últimos, as instalações dos comerciantes.
Ao mesmo tempo, havia uma
mistura de raças como nunca havia se visto antes em qualquer outro ponto da
Europa, sendo seguida apenas por Lisboa. Era comum ver no interior de uma
residência, uma família à mesa, seguido de uma sala decorada de forma simples,
tendo como limite, no canto, uma cortina de seda, no qual, do outro lado,
via-se dois serviçais negros cuidando da cozinha e da adega. A mistura era tal
que, além dos escravos, a cidade era freqüentada constantemente por uma grande
quantidade de comerciantes estrangeiros. Eurico, juntamente com Lisboa e
Sevilha, eram as maiores cidades do reino Ibérico. Por isso, a cidade também
era um grande chamariz para que trapaceiros e assaltantes aplicassem os seus
golpes.
Era tarde da noite. A lua
mostrava-se alta no céu. Uma das casas mais ricas e pomposas, que se destacava
das demais, era a morada de Rui Vaz de Medeiros, chamado de Vasco de Medeiros.
Ele era um comerciante respeitável, mais abastado do que os demais e, apesar do
contrário que se dizia dessa profissão, era honesto. O silêncio começava a
agoniar. Por cima das casas, os telhados mostravam a cidade como um labirinto.
No seu interior, entre as vielas e ruas, em total calma, um estranho homem
aguardava. O tempo passava, ele roçava as suas mãos em sua espada e na sua arma
de fogo. Olhou mais uma vez para frente, foi quando avistou outros dois homens,
do outro lado da quadra, entre as sombras de um beco. O estranho homem sorriu,
tornando o seu olhar para a casa do comerciante. A casa possuía o térreo,
contado como o primeiro andar, e mais dois em seqüência. A casa era
extensa e tinha uma fachada luxuosa, era possível perceber mesmo estando ela
completamente apagada, coberta pela escuridão da noite.
De dentro da escuridão do
beco, os dois homens dispararam com suas montarias. Cada um portava quatro
armas de fogo e uma espada. O estranho homem começou a se mover, aproximando-se
dos dois comparsas.
– Apenas nós três para
simular um roubo e carregar todas aquelas riquezas? – perguntou um dos homens
que se aproximava.
Viraram-se para casa.
– Sete. – respondeu o
estranho. – Quatro estão do outro lado da casa. Quero evitar que algum escravo
tente proteger o seu senhor.
Um dos cavaleiros abriu um
sorriso, desmontando rapidamente, seguido pelo outro.
– Não me faça rir. Um
escravo arriscando a vida pelo seu dono?
Começaram a se dirigir para
casa de maneira rápida.
– Fala-se que este homem
trata com respeito e dignidade aos que são seus, é lógico que os seus serviçais
lutarão por ele, uma vez que eles não terão a vida que levam sem o seu “bom”
senhor.
– Por isso, temos que
matá-lo. – concluiu um.
– Onde está o pagamento? –
perguntou outro.
– Será o suficiente para que
nós sete tenhamos que carregá-lo. Já está seguro, os próprios serviçais do
senhor que nos encomendou o serviço levaram até o local que apontei.
– Que homem generoso. –
falou com ironia.
– Ele nos prometeu ainda
mais se fizéssemos bem o serviço.
– Quem é “ele”?
– É um homem obscuro, eu
mesmo não vi o seu rosto, o chamam apenas de “Senhor Marcos”. Vi muitos homens
tremerem perto dele.
– Por quê?
– Dizem que ele tem pacto
com o demônio.
– Essa cidade tem muitas
lendas. A inquisição já o teria interrogado.
Invadiram o pátio da casa
rapidamente.
– Por isso que o temem.
Os ladrões invadiram a casa
arrombando a porta de entrada, acordando a todos nos andares à cima. A
escuridão era forte, rompida apenas pelo luar que atravessava as janelas. Nos
fundos, quatro escravos foram jogados para dentro da casa, sendo que um já
estava morto, garganta cortada. Rui Vaz de Medeiros não precisou saber o que
estava acontecendo para entender a situação, puxou a esposa pelo braço, entrou
nos quartos das crianças, abriu a janela, fazendo menção para que saíssem pela
beirada, eles estavam no terceiro andar. A família hesitou. As crianças
começaram a chorar enquanto os invasores subiam as escadas. Rui tapou a boca de
um dos seus filhos de forma desesperada, sua esposa tapou a do outro. Os
escravos começaram a gritar, mais um foi morto à fio de espada, caindo inerte.
Seu sangue espalhou-se pelo chão, mesclando-se ao do primeiro morto.
– Estamos indo lhe buscar,
senhor Rui. – disse um em tom de deboche enquanto terminava o primeiro lance de
escadas, alcançando o segundo andar.
O assassino percorreu o
andar enquanto outro vinha logo atrás.
– Vá para o andar seguinte.
– disse. – Eu já estou cuidando daqui.
Mais dois assassinos subiram,
permanecendo os outros três embaixo.
– Senhor Rui, – continuava a
brincadeira. – onde o senhor está?
Um dos invasores subiu para
o terceiro andar.
Rui e sua família escutavam
os passos daquele homem cortando rapidamente os corredores, abrindo quarto por
quarto violentamente, chegando ao aposento do casal. Estava vazio. As luzes
mantinham-se apagadas. Rui olhou para as crianças mais uma vez, fitou a esposa.
Segurou uma criança no colo, a esposa apanhou a outra. Fez sinal para que ela
saísse. Sua esposa sentou-se na janela, passou as pernas, difícil se
equilibrar, beirada muito estreita. Rui permanecia dentro do quarto, com a
criança mais nova no colo, as sombras dos pés do assaltante, iluminadas pelo
luar que invadia o corredor, despontaram nas frestas da porta. Rui virou-se
para a janela, atravessando a criança para o outro lado, equilibrando-a,
fazendo sinal para que ficasse imóvel. Olhou para a sua esposa, carregando a
sua pequena criança, equilibrando-se da maneira que lhe era possível, voltou
para o quarto.
– Pai! – gritou a criança, a
mãe tapou a sua boca.
A porta foi arrombada.
– Ora, aí está você. – disse
o invasor abrindo um sorriso ao ver a sua vítima. – Onde estão as crianças,
heim? E a sua esposa?
Rui manteve-se imóvel.
– O que você quer? – perguntou
sério.
A esposa, com as duas
crianças, continha o próprio choro e abafava o pranto dos filhos. Só foi
possível escutar o barulho de um corpo sendo jogado dentro do quarto, a mulher
teve de fazer ainda mais força para segurar o lamento, dentes cerrados, uma
lágrima correu rápido. Rui recebeu mais um chute, foi arremessado para o outro
lado do quarto.
– Onde está o resto da
família?
Os outros três invasores
adentraram o quarto.
– Não estão em parte alguma.
– disse um.
– Vamos matar ele, pegar
alguma coisa e partir. – concluiu outro.
– Não! – respondeu o
estranho. – O trato era eliminar a família! Onde eles estão?
Rui manteve-se em silêncio,
o estranho homem o agarrou pela roupa, jogou-o no canto, desferiu outro soco.
Nada. Puxou a espada, o som áspero da lâmina deslizando pela bainha soou pelo
quarto. Cravou no ombro de Rui e torceu. O grito involuntário foi ouvido. A
mulher soluçou com o choro e o ar sendo empurrado de seus pulmões, ainda se
equilibrando com uma criança no colo e tentando firmar a outra pela mão. Seus
olhos vermelhos olharam para frente, fitou o céu escuro e as casas. Foi quando
ela percebeu um vulto negro, ainda distante, cortando os telhados dos prédios.
Um ladrão apareceu de súbito
pela janela, fitando o resto da família.
– Aí estão vocês. – disse em
tom de brincadeira.
– Não! – gritou Rui.
A mão de um dos invasores
avançou para fora da casa, alcançando a cabeça da criança, puxando pelo cabelo,
forçando-a gritar e chorar desesperadamente. Soltando-se da mão de sua mãe,
quase derrubando a ela e a outra criança.
– Venha cá! – disse.
– Não! – gritava a criança
desesperada. – Socorro! Não! Pára!
– Desgraçado! – era Rui ao
ver o seu filho sendo trazida pelos cabelos para dentro da casa.
A mãe começou a chorar ainda
mais copiosamente, agora só com a sua filha em seus braços. A criança, ainda
sendo puxada pelos cabelos, foi jogada para o outro lado do quarto, parando
perto do pai. Uma poça de sangue já tomava o lugar. Mais dois assassinos
adentraram o recinto.
– Vamos terminar logo com
isso!
– Onde está o outro? E os
escravos?
– Está de guarda. Matamos a
todos...
O estranho sorriu, puxou uma
pistola.
– Tem duas pessoas na
janela. – entregou a arma.
– Estamos chamando muito
atenção.
– Não estou preocupado.
Todos têm medo de que façamos algo contra eles depois.
– Queria me divertir com a
mulher e com as crianças primeiro...
– Faça o que quiser, mas
faça rápido!
– Maldito! – gritou Rui mais
uma vez.
O estranho homem o olhou nos
olhos.
– Quer reagir? – retrucou
com ironia. – Não tem medo de piorar a sua situação e de sua família?
– Por que vocês estão
fazendo isso? – sua voz tremia.
– Por quê? – continuou com a
ironia. – Eu preciso de um “por quê”? Fomos pagos, e isso é o bastante pra mim!
– Por favor, deixem minha
família ir...
– Depende. Se você conseguir
olhar nos olhos de sua esposa e sua filha enquanto o meu amigo estiver se
“divertindo” com elas e você conseguir dizer que vai ficar tudo bem, talvez aí,
então, pensarei se elas merecerão partir...
– Maldito! Por que está
fazendo isso?
– De novo, a mesma pergunta?
Não lhe dei motivação suficiente? Bom, – respirou calmamente. – sua família
tinha ligação com a antiga família que governava essa cidade. Por motivos,
acredito eu, políticos, vocês são uma ameaça à ordem desse lugar.
O estranho puxou uma arma de
fogo, apontou para a cabeça do seu filho. Rui enfureceu o olhar.
– Mas que coisa! – disse em
tom de revolta, tomado pelo instinto. – Quer parar de apontar essa arma para a
cabeça do meu filho? – falou com raiva.
Acariciou o revolver na
cabeça da criança.
– Os pecados do pai, –
começou o estranho. – se refletem nos filhos...
– Deus! Faça ele parar!
A mulher escutava tudo do
lado de fora, soluçava.
– Desculpe-me! – começou Rui
de forma desesperada. – Por tudo que fiz! O que quer que tenha sido! Perdoe-me!
Mas, por favor, não machuca meu filho!
– Deixe que eu mate logo
esse cara! – disse outro.
O estranho levantou,
estendeu a espada.
– À vontade...
A espada foi empunhada
enquanto o outro invasor se debruçava para fora da janela, apontando a arma.
– Venha cá, moça. – disse
ele sorrindo. – Você não quer que eu atire na cabeça de sua filhinha aqui,
quer? Então, venha aqui. Deixe-me “ajudá-la”.
A mulher manteve-se imóvel.
– Escuta! – insistiu ele. –
O que você prefere? Dar mais um tempo de vida à criança ou vê-la morta em seus
braços neste exato momento?
– Não! – gritou Rui
novamente.
– Cala a boca! – disse o
outro golpeando com a espada na altura do rosto, fazendo mais sangue jorrar.
Seu filho começou a chorar ainda mais.
– E então, mulher? –
insistia. – Eu quero diversão...
A mulher olhou para o céu
mais uma vez, procurou pelo vulto que corria pelos telhados, nada viu. Seu
choro era audível e ninguém fazia nada, todos estavam com medo. Ninguém queria
se intrometer. Olhou para o céu, pediu ajuda.
– Estou esperando. – disse
em tom de deboche.
– Deus... – era a mulher.
– Deus? – perguntou com tom
de desdém. – Seja lá onde Ele estiver, Ele não pode fazer nada p...
Um vulto negro enorme,
surgido do nada, mas seguindo em direção à janela da casa, avançou contra o homem,
invadindo o imóvel e empurrando o aquele agressor violentamente de volta para o
interior da casa, salvando a mulher e sua filha, espantando os seus comparsas,
derrubando-o no chão, quebrando a madeira e saltando de cima do seu corpo
imóvel para o outro lado do quarto, colocando-se ao lado de Rui, este se
mostrou completamente surpreso. O invasor, agora tremendamente ferido, não se
levantou.
Todos o olharam com espanto.
– A mulher pediu ajuda a
Deus e surge um demônio?
A figura negra olhava para
os agressores com o seu rosto coberto pelo capuz.
– Deixe essa família em paz!
– ordenou a criatura de forma ameaçadora. – Saltem pela janela.
O estranho o observou.
– Eu sei quem você é! –
disse. – Você é o ladrão batizado com o nome de “Capuz”, sua fama tem rodado
entre os homens do submundo. Como você chegou aqui?
A figura permaneceu em
silêncio.
– Você é um ladrão como a
gente! – disse outro.
– Saltem e pouparão muito
sofrimento. – concluiu a criatura.
– Entendi. – continuou o
estranho. – “O Ladrão e seus Segredos”. Pelo que vejo, você protege o cidadão
desta urbe e isso é muito nobre. Mas rouba e ataca pessoas que fazem mal a ela,
ou manda “pular pela janela”. É uma pena. Poderíamos fazer grandes negócios
juntos.
Os olhos da criatura
brilharam.
O invasor com a espada
avançou, a criatura segurou o seu punho, quebrando o seu braço em seguida.
– Ah, Deus! – disse caindo
de dor.
– Agora clama por Ele? – era
a criatura com ironia.
Outro avançou. A criatura o
golpeou diretamente no rosto, pareceu sentir a sua face afundando. O homem
gritou de forma descomunal, caindo para trás com as mãos no rosto, o seu sangue
começou a banhar o chão. Sua face rapidamente ficou toda ensangüentada.
– Ora, vejam? – disse o
estranho com ironia, com a pistola em punho, mirando. – Acredita que pode nos
derrotar?
Disparou em seguida, mas não
foi possível entender o que aconteceu. Nenhum dos quatro invasores ainda de pé
conseguiu entender o que havia acontecido. A criatura havia desaparecido antes
mesmo que o gatilho fosse puxado.
– Meu Deus! – disse outro. –
Ele, ele, é um demônio!
O último invasor apareceu à
porta do aposento.
– O que está acontecendo
aqui?
Todos o olharam.
Só foi possível ver seu
corpo sendo golpeado por trás na altura das costas e uma mão negra passando em
volta do seu pescoço. O homem rapidamente ficou inconsciente. A criatura o
levantou no ar, arremessando para dentro do aposento.
O estranho homem, mais os
seus três comparsas, sacaram as suas armas, duas em cada mão. Os disparos foram
ensurdecedores, a fumaça se levantou. Mas a criatura esquivou-se da mira de
seus pretensos executores antes mesmo dos disparos, movendo-se rapidamente. O
Capuz avançou sobre um, porém pareceu nada fazer. Os invasores sacaram as suas
outras armas, mas não atiraram, não havia mira. Era possível enxergar apenas o
invasor, a criatura só podia estar se protegendo do outro lado.
– Homem! – disse o estranho
referindo-se ao comparsa que a criatura havia se aproximado. – Saia daí! Quero
matar esse animal!
Nada aconteceu. O silêncio
prevaleceu por alguns segundos, rompido apenas pelo choro da criança e a
respiração pesada dos demais. O comparsa gemeu.
– Abra espaço para a mira! –
insistiu.
O comparsa gemeu novamente,
virando-se devagar.
– Forte... – disse sem que
entendessem. – Muito forte...
O homem caiu inerte, os
demais miraram a sua retaguarda. Nada encontraram, estava tudo vazio.
– Onde esse maldito está?
Faltavam apenas três.
Rui abraçou o seu filho. Do
lado de fora da casa, na beirada da fachada, a mãe, segurando ainda a sua
filhinha, começava a fraquejar em suas pernas. Mais uma lágrima correu em sua
face.
– Maldito! – gritou o
estranho.
A criatura surgiu de
repente, passando rente a um dos invasores. O som de farfalhar de asas de couro
tomou o recinto, sumindo por completo em seguida.
– O que aconteceu? –
perguntou outro.
O invasor ao qual a criatura
havia passado rente caiu com hemorragia nos olhos, na boca e no nariz. Ele
ainda iria sobreviver. Os dois últimos invasores sentiram-se acuados.
– Socorro... – disse de
forma baixa, quase um sussurro.
– Cale a boca! – era o homem
estranho. – Idiota!
Os dois estavam
completamente acuados, fitaram a porta do aposento, uma possibilidade de fuga,
fitaram a janela. O penúltimo invasor entrou em pânico.
– Ele é um demônio! Ele é um
demônio! Eu não quero morrer!
Gritou em desembalada
carreira em direção à saída. Foi tudo muito rápido e difícil de entender. Só
foi possível captar aquela sombra monstruosa vindo direto de cima, saindo do
teto, em meio à escuridão do quarto, caindo sobre o invasor desesperado, seguido
do estrondo como se algo tremendamente pesado caísse sobre alguém. A sombra
desapareceu em seguida.
O estranho homem sentiu-se
ainda mais acuado. Olhou em volta, todos os seus comparsas estavam por terra.
Sua respiração ficou ainda mais ofegante. Olhou para todos os lados, fitou Rui
e o seu filho. Teve uma péssima idéia. Apontou a arma para eles.
– Apareça! Ou eles vão pagar
caro por sua intromissão!
Rui abraçou o seu filho.
– Vai ficar tudo bem, meu
filho...
A criatura despontou do
outro lado do aposento, de costas para a porta. O estranho homem sorriu, sentiu
um resquício de esperança. A estranha sombra começou a caminhar lentamente na
direção do último invasor, este apontou a arma de fogo em sua direção.
– Não tem nada a dizer?
A criatura continuou calada.
O estranho preparou-se para puxar o gatilho. Sem esperar por sequer mais um
segundo, a criatura arremessou um punhal na direção da arma de fogo,
cravando-se na mão do estranho, impossibilitando-o de disparar a arma, o grito
de dor veio em seguida. O
estranho tentou reagir, mas a sombra agiu ainda mais rápido, correndo em sua
direção, empurrando-o contra a parede, sofrendo um forte impacto, pressionando
com força por algum tempo, fazendo-o esmorecer.
– Maldito... – disse o
último invasor de forma deveras fraca.
Desmaiou.
A sombra dirigiu-se à
janela, fitou a mulher e sua criança, estendeu a mão. A mulher ainda sentia
toda aquela pressão que havia acabado de sofrer, a agonia, o medo, a dor e o
desespero ainda não haviam partido por completo.
– Venha! – disse. – Está
seguro!
A mãe lentamente começou a
se mover, ainda com a criança no colo, já estava sem forças. A criatura apanhou
a criança, trazendo-a em seguida para dentro do aposento. Rapidamente,
voltou-se para a janela, deu sustentação à mulher, esta também retornou ao
aposento. Quando pôs os pés de volta no quarto, caiu em prantos, abraçando
novamente a sua filha. Rui levantou-se com o seu filho ao seu lado, ainda
sentindo a estocada da espada.
– Estamos todos bem, –
disse. – graças a você...
A estranha figura negra nada
respondeu.
– O que posso fazer para
recompensá-lo?
A criatura o fitou de volta,
mas nada disse. Essas foram as últimas ações daquele ser. A família do senhor
Rui Vaz de Medeiros não entendia quem ele era, não sabia a sua origem, mas também
não se importava. Eles se mudariam da cidade de Eurico por um tempo
indeterminado, para evitar qualquer nova afronta. Não era necessário dizer que
a criatura estava ciente que aquilo era obra daquele governo maldito, que
tentava destruir a cidade de Eurico. Mas, breve, tudo isso mudaria. Pois o
Capuz havia assentado em seu coração afrontar o governo, destruir aqueles que
se regozijavam com a maldade e trazer justiça àquele povo tão sofrido. Breve...
Na manhã seguinte,
malfeitores, inexplicavelmente, surgiram amarrados e espancados diante da casa
da guarda. Tudo manteve a sua normalidade, nenhuma tragédia fora sentida,
nenhuma família morta durante uma noite tenebrosa foi noticiada. Acidade
continuou a sua grande expansão, com as suas riquezas superabundando, apesar do
descaso do atual governador espanhol Dom Ziros Lopes Garcia, nomeado pelo
El-Rei Dom Filipe II, da Espanha.
Por fim, eram incontestáveis
as noticiais e rumores sobre uma estranha figura que começou a ser vista nos
becos escuros da cidade.A inquisição não aceitou o ar de mistério envolto a
esta figura, chegando a acreditar que esse ladrão possuía relações com forças
diabólicas, uma vez que o povo igualmente acreditava que ele fosse uma força
espiritual. A lenda do “Capuz”, o misterioso ladrão que vinha aplicando os seus
golpes na cidade de Eurico, roubando das casas dos nobres e burgueses com mais
afinidade ao atual governante, começou a tomar força. Uns poucos que avistaram
a criatura, a descreveram com sendo uma sombra, um apavorante monstro
encapuzado. Mas ninguém, ninguém, sabia a verdade, mas o povo não se importava,
pois agora sabiam que alguém velava pela vida deles e agradeciam a Deus por
isso...
Eu ia ler depois, mas fiquei curiosa e acabei lendo logo *-*
ResponderExcluirGostei do conto, muito bem escrito.
Achei engraçado quando mencionado "o ladrão batizado com o nome de Capuz" rsrs
Parabéns. Sempre que puder virei aqui!